quarta-feira, 29 de abril de 2009


...e continuamos,
repetindo tudo:
tua boca em minha boca
minhas mãos em teus cabelos
[emaranhadas
e os nossos corações pulsando juntos.
É o êxtase!
Eis o final!
A sinfonia estertora
ao ranger de dentes e lábios que silvam
na contorção vertiginosa
do corpo infiltrando-se pela alma!

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Constante Disritmia

Eu quero me esconder debaixo dessa sua saia pra fugir do mundo
Pretendo também me embrenhar no emaranhado desses seus cabelos
Preciso transfundir seu sangue pro meu coração que é tão vagabundo
Me deixa te fazer um dengo, pra num cafuné fazer os meus apelos
Eu quero ser exorcizada pela água benta desse olhar infindo
Que bom é ser fotografada, mas pelas retinas desses olhos lindos
Me deixe hipnotizada pra acabar de vez com essa disritmia
Vem logo, vem curar sua nega , que chegou de porre lá da boemia

quarta-feira, 15 de abril de 2009

qualquer coisa pra você ..

Me sinto como uma fênix
que se renova a cada fim
Me sinto como as estações
Que se transforma em tempo real
Me sinto segura como a força
Que reage só no seu momento
Com clareza, certeza e receio .
Me sinto dentro de uma grande história
Que é escrita num tempo tão curto.
Muito mais curto do que podemos imaginar
E que se esgota ao anoitecer .
Me vejo rodeadas de mudanças e alegrias
Tive medo do novo, Mais estive dentro dele
Ai então consegui entender como ainda não sei nada...
Dentro de seus limites.
Ainda existe coisas passadas que fazem parte do presente
Mais o que muda, é como nos olhamos
Assim o novo também pode ser eterno
Culpar a quem ?A mim mesma ?
Não sem culpas , viver o novo
é melhor do que imaginava
e mais forte que eu .

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Retrato Falante

Não há quem não se espante, quando
mostro o retrato desta sala,
que o dia inteiro está mirando,
e à meia-noite em ponto fala.

Cada um tem sua raridade:
selo, flor, dente de elefante.
Uns têm até felicidade!
Eu tenho o retrato falante.

Minha vida foi sempre cheia
de visitas inesperadas,
a quem eu me conservo alheia,
mas com as horas desperdiçadas.

Chegam, descrevem aventuras,
sonhos, mágoas, absurdas cenas.
Coisas de hoje, antigas, futuras...

(A maioria mente, apenas.)

E eu, fatigada e distraída,
digo sim, digo não - diversas
respostas de gente perdida
no labirinto das conversas.

Ouço, esqueço, livro-me - trato
de recompor o meu deserto.
Mas, à meia-noite, o retrato
tem um discurso pronto e certo.

Vejo então por que estranho mundo
andei, ferida e indiferente,
pois tudo fica no sem-fundo
dos seus olhos de eternamente.

Repete palavras esquivas
sublinha, pergunta, responde,
e apresenta, claras e vivas,
as intenções que o mundo esconde.


Na outra noite me disse:
"A morte leva a gente. Mas os retratos
são de natureza mais forte,
além de serem mais exatos.

Quem tiver tentado destruí-los,
por mais que os reduza a pedaços,
encontra os seus olhos tranquilos
mesmo rotos, sobre os seus passos.


Depois que estejas morta, um dia,
tu, que és só desprezo e ternura,
saberás que ainda te vigia
meu olhar, nesta sala escura.

Em cada meia-noite em ponto,
direi o que viste e o que ouviste.
Que eu - mais que tu - conheço e aponto
quem e o que te deixou tão triste."

Aquele que aproxima os que sempre estarão
distantes e desunidos
e separa os que pareceriam
para sempre unidos e semelhantes
enxuga meus olhos
no alto da noite de mil direções.
Encostada a seu peito,
contemplo desfigurada
o negro curso da vida
como, um dia,
do alto de uma fortaleza
vi a solidão das pedras milenares
que desciam por suas arruinadas vertentes.

Palavras

Espada entre flores,
rochedo nas águas,
assim firmes, duras,
entre as coisas fluidas,
fiquem as palavras,
as vossas palavras.

Pois se por acaso
dentro dos sepulcros
acordassem as almas
e em sonhos confusos
suspirassem rumos
de histórias passadas
e houvesse um tumulto
de ânsias e de lágrimas,

- lembrassem as lágrimas
caídas no mundo
nas noites amargas
cercadas dos muros
das vossas palavras.
Todas as palavras.

Nos espelhos puros
que a memória guarda,
fique o rosto surdo,
a música brava
do humano discurso.
De qualquer discurso.

Só de morte exata
sonharão os justos,
saudosos de nada,
isentos de tudo,
pascendo auras claras,
livres e absolutos,
nos campos de prata
dos túmulos fundos.

No meio das águas,
das pedras, das nuvens,
verão as palavras:
estrelas de chumbo,
rochedos de chumbo.
A cegueira da alma.
O peso do mundo.

Adeus, velhas falas
e antigos assuntos!